Na verdade, acho que as crianças deviam aprender a ler nos livros de Hegel e
em longos tratados de metafísica.
Só elas tem a visão adequada à densidade do
texto, o gosto pela abstração e tempo disponível para lidar com o infinito.
E na velhice, com a sabedoria acumulada numa vida de leituras, com as letras ficando progressivamente maiores à medida que nossos olhos se cansavam, estaríamos então prontos para enfrentar o conceito básico de que vovô vê a uva, e viva o vovô.
Toda essa inquietação, nossa perplexidade e nossa busca terminariam na
resolução deste enigma primordial...
Nosso último livro seria a cartilha.
E a nossa última aventura intelectual, a contemplação enternecida da letra A.
Ah o A, com suas grandes pernas abertas.
(Luís Fernando Veríssimo)
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